O número de empresas brasileiras que pediram recuperação judicial cresceu significativamente em 2024, segundo dados da Serasa Experian. De janeiro a setembro, foram registrados 1,7 mil pedidos, um aumento de 73% em relação ao mesmo período de 2023, superando os números da recessão de 2016.
Causas do Aumento nos Pedidos
Eduardo Bazani, sócio-diretor da Nordex Consultoria Empresarial, aponta que fatores como juros altos, inadimplência dos consumidores, depreciação cambial e desafios tecnológicos têm sido decisivos para essa escalada.
No setor de agronegócio, a situação também é grave. Foram 207 pedidos de recuperação judicial no primeiro semestre de 2024, já superando os 162 registrados durante todo o ano de 2023. Entre os motivos, estão as condições climáticas adversas, aumento dos custos de produção e juros elevados no crédito agrícola.
Setores Mais Impactados
- Serviços: Representam 41% dos pedidos no ano.
- Agronegócio: De janeiro a setembro, registrou 287 pedidos, mais que o triplo do mesmo período em 2023 (77 casos).
Empresas como a AgroGalaxy, com dívidas de R$ 3,7 bilhões, e o Grupo Patense, com R$ 2,15 bilhões, ilustram a dimensão do problema.
Micro e Pequenas Empresas em Risco
Sete em cada dez pedidos de recuperação judicial vêm de micro e pequenas empresas, o que reflete o impacto das dificuldades econômicas em empreendimentos menores.
Soluções Necessárias
Segundo Bazani, a reestruturação empresarial é essencial para empresas em crise, ajudando a restaurar a saúde financeira e operacional afastando a recuperação judicial.
Atual Governo
Em 2024, o agravamento do endividamento empresarial no Brasil foi associado, por muitos especialistas, a medidas econômicas do atual governo, que não conseguiram mitigar os impactos de uma economia já fragilizada. A política monetária manteve juros elevados, dificultando o acesso ao crédito e aumentando os custos das empresas para refinanciar dívidas. Além disso, a falta de reformas estruturais amplificou a incerteza econômica, impactando setores-chave como serviços e agronegócio. Pequenas e médias empresas, responsáveis por boa parte da geração de empregos, foram especialmente prejudicadas, contribuindo para um cenário econômico mais tenso e instável muitas requerendo recuperação judicial.
Alta carga tributária
A alta carga tributária no Brasil é um dos principais desafios para as empresas que entram em recuperação judicial, sendo frequentemente apontada como um entrave ao crescimento econômico e à competitividade. Em 2024, o peso dos tributos continuou a impactar negativamente os negócios, especialmente micro e pequenas empresas, que têm menos recursos para lidar com custos adicionais e burocracia.
O sistema tributário complexo, aliado à falta de reformas estruturais, contribui para a informalidade e para a dificuldade em atrair investimentos. Além disso, a carga tributária elevada encarece produtos e serviços, reduzindo o poder de compra da população e limitando o crescimento econômico.
A implementação de uma reforma tributária efetiva é crucial para simplificar o sistema, reduzir a evasão fiscal e criar um ambiente mais favorável para empreendedores e investidores, mas as discussões sobre o tema avançam lentamente no Congresso.
O governo federal tem sido alvo de críticas em relação aos seus gastos, com muitos apontando uma administração pública “gastona” e ineficiente. Um dos principais problemas apontados por analistas econômicos é a crescente carga tributária e o alto nível de endividamento público, que impacta diretamente a capacidade do governo de aplicar recursos de maneira eficiente. A percepção de desperdício de recursos públicos se reflete em diversas áreas, como a execução de projetos, a falta de transparência em alguns investimentos e o alto custo de algumas políticas públicas.
Apesar de algumas iniciativas voltadas para a redução de custos e melhoria da gestão, como reformas fiscais e corte de gastos correntes, muitos críticos afirmam que essas mudanças são insuficientes para reverter o quadro. A ineficiência na alocação dos recursos públicos e o aumento das despesas com pessoal e custeio da máquina pública são pontos frequentemente destacados. A burocracia excessiva também é um fator que contribui para esse cenário, dificultando a implementação de políticas públicas mais eficientes.
Além disso, o sistema tributário complexo e a elevada carga sobre empresas e cidadãos geram distorções, penalizando a competitividade e a inovação no país. Embora o governo alegue que está trabalhando para promover uma “transição fiscal” e estabilizar a economia, ainda existem desafios significativos para criar um ambiente mais equilibrado e produtivo.
Esses fatores, combinados com o crescimento das dívidas externas e internas, alimentam a percepção de um governo que, apesar de suas intenções, não consegue ser eficiente na gestão dos recursos públicos. O cenário leva a um debate sobre a necessidade de reformas mais profundas no sistema econômico e administrativo do país para garantir uma gestão mais eficiente e voltada para resultados.