O cenário geopolítico do sul da Ásia entrou em estado de alerta máximo após uma perigosa escalada militar entre Índia e Paquistão, duas potências nucleares que compartilham uma história de conflitos. Em um movimento que pode desencadear consequências devastadoras para a região, o primeiro-ministro paquistanês Shehbaz Sharif autorizou as Forças Armadas do país a empreender “ações correspondentes” contra a Índia, após ataques indianos que resultaram na morte de pelo menos 26 pessoas, incluindo uma criança de apenas 3 anos, e deixaram outras 46 feridas.
A decisão de Sharif veio após uma reunião emergencial do Comitê de Segurança Nacional (NSC) realizada na quarta-feira (7), horas depois de as Forças Armadas indianas terem executado a chamada “Operação Sindoor”, atingindo o que Nova Déli classificou como “infraestrutura terrorista” em território paquistanês e na região da Caxemira sob administração do Paquistão. O comunicado oficial do governo paquistanês foi enfático ao declarar que “o Paquistão reserva-se o direito de responder, em legítima defesa, no momento, local e maneira que escolher para vingar a perda de vidas paquistanesas inocentes e a flagrante violação de sua soberania.”
Islamabad alega ter abatido cinco aeronaves indianas durante o ataque, incluindo três valiosos caças Rafale adquiridos pela Índia de um fabricante francês, além de um drone. A Índia, por sua vez, não confirmou essas perdas militares. O governo indiano justificou sua operação como resposta a um ataque ocorrido em 22 de abril na Caxemira controlada pela Índia, quando um grupo armado matou mais de duas dúzias de pessoas, principalmente turistas. Nova Déli acusa o Paquistão de envolvimento nesse massacre, acusação que o governo paquistanês tem negado veementemente.
Este episódio representa mais um capítulo no histórico conflito entre os dois países, que desde a partição da Índia britânica em 1947 já travaram três guerras pela região da Caxemira. O território, reivindicado integralmente por ambas as nações, continua sendo um foco de tensão permanente. A Índia, com maioria populacional hindu, e o Paquistão, predominantemente muçulmano, mantêm uma retórica de acusações mútuas que deteriorou ainda mais as já frágeis relações diplomáticas.
Analistas internacionais observam com preocupação este novo patamar de hostilidades, considerando o potencial nuclear de ambos os países e a instabilidade histórica da região. A comunidade internacional acompanha atentamente os desdobramentos, temendo que esta troca de ataques possa evoluir para um conflito generalizado com consequências imprevisíveis não apenas para o sul da Ásia, mas para a segurança global.
Arsenais Nucleares de Índia e Paquistão: Uma Análise Detalhada
A Índia e o Paquistão representam um complexo estudo de caso sobre a proliferação nuclear no Sul da Ásia, região que abriga uma das rivalidades mais longevas e tensas do cenário internacional. O desenvolvimento dos arsenais nucleares destes países está intrinsecamente ligado à sua conturbada história de conflitos, começando com a partição do subcontinente indiano em 1947, seguida por três guerras convencionais (1947-48, 1965 e 1971) e numerosos confrontos menores, incluindo a crise de Kargil em 1999.
A trajetória nuclear indiana iniciou-se em 1948 com a criação da Comissão de Energia Atômica, seguindo uma estratégia gradual que culminou no primeiro teste nuclear em 1974, denominado “Explosão Nuclear Pacífica”. Contudo, foi apenas em maio de 1998 que a Índia realizou testes nucleares assumidos formalmente, declarando-se uma potência nuclear. O arsenal indiano é estimado entre 150-160 ogivas nucleares, com capacidade de entrega através da tríade completa: bombardeiros estratégicos (como o Mirage 2000H e o Jaguar IS), mísseis balísticos terrestres (família Agni, com alcances variando de 700 a 5.000 km) e submarinos (com o desenvolvimento do míssil K-15 Sagarika para o submarino nuclear INS Arihant).
O programa nuclear paquistanês desenvolveu-se como resposta direta à ameaça percebida da Índia. Acelerado após a derrota na guerra de 1971 e o teste nuclear indiano de 1974, contou com contribuições significativas de A.Q. Khan, que trouxe tecnologia de enriquecimento de urânio da Europa. O Paquistão realizou seus primeiros testes nucleares em maio de 1998, apenas semanas após os testes indianos. Seu arsenal, estimado entre 150-165 ogivas, tem como vetores principais os mísseis balísticos da série Ghauri (baseados na tecnologia norte-coreana Nodong) e Shaheen, além de mísseis de cruzeiro como o Babur e bombardeiros como o F-16.
Ambos os países adotam doutrinas nucleares que refletem suas diferentes posições estratégicas. A Índia mantém uma política de “não primeiro uso”, estabelecendo que suas armas nucleares seriam empregadas apenas em retaliação a um ataque nuclear contra seu território ou forças. Já o Paquistão, militarmente inferior em termos convencionais, recusa-se a adotar tal política, mantendo a ambiguidade estratégica quanto ao uso de armas nucleares como compensação para sua desvantagem convencional, particularmente em cenários como a doutrina indiana “Cold Start” para operações militares rápidas e limitadas.
A modernização dos arsenais nucleares de ambos os países segue em ritmo acelerado. A Índia desenvolve mísseis balísticos intercontinentais como o Agni-VI (alcance superior a 10.000 km), o submarino nuclear INS Arihant e mísseis de cruzeiro como o BrahMos. O Paquistão, por sua vez, tem investido em sistemas táticos como o míssil Nasr (60-70 km de alcance) e armas nucleares de baixa potência, sinalizando uma possível mudança para uma doutrina de “uso precoce” em resposta a ataques convencionais indianos.
O controle e comando nuclear nos dois países apresenta estruturas distintas. A Índia mantém um sistema com controle civil, centrado no Conselho de Comando Nuclear presidido pelo Primeiro-Ministro. O Paquistão, após diversas reorganizações, estabeleceu a Autoridade de Comando Nacional, presidida pelo Primeiro-Ministro, mas com forte influência militar, especialmente através da Divisão de Planos Estratégicos, que gerencia os aspectos técnicos e operacionais do programa nuclear.
A dinâmica nuclear regional é ainda complicada por fatores como a expansão do programa nuclear chinês, aliado do Paquistão, e a parceria estratégica indo-americana. Nenhum dos dois países é signatário do Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP), rejeitando-o como discriminatório. A estabilidade estratégica regional permanece frágil, com riscos significativos de escalada em crises futuras, exacerbados pela ausência de acordos formais de controle de armas, comunicações limitadas e percepções de ameaça mutuamente reforçadas.
O desenvolvimento continuado de mísseis balísticos e de cruzeiro, sistemas de defesa antimíssil pela Índia, e armas nucleares táticas pelo Paquistão, aumenta a complexidade do equilíbrio estratégico. Esta corrida armamentista nuclear representa um dos mais sérios desafios à segurança internacional, com potencial para desestabilizar não apenas o Sul da Ásia, mas todo o sistema internacional, caso ocorra um conflito nuclear, mesmo que limitado, nesta região densamente povoada e geopoliticamente crítica.